Oito anos com o Ethereum

intermediário8/4/2025, 10:26:58 AM
Enquanto o Ethereum celebra seu décimo aniversário, este artigo revisita sua trajetória tecnológica e evolução através de cinco eras marcantes: o frenesi das ICOs, o avanço das DeFi, a consolidação das soluções de Camada 2, o crescimento do staking (participação) e a atual fase de ativos tokenizados. De referências como CryptoKitties e DeFi até LSTs e ETFs de negociação à vista, o texto apresenta uma análise detalhada dessas evoluções. Mais do que um registro histórico, é uma avaliação aprofundada do sentimento do mercado e das inovações tecnológicas que moldaram o ecossistema. Acompanhe e debata os próximos dez anos do Ethereum.

Antes de mais nada, parabéns pelos 10 anos de Ethereum!

Hoje faz exatamente oito anos desde que criei minha primeira carteira Ethereum.

Dizem que, em média, a cada sete anos nosso corpo se renova completamente em nível celular.

Ou seja, biologicamente falando, já não sou mais a mesma pessoa.

Mas o Ethereum segue sendo o mesmo Ethereum.

Minha carteira Ethereum original continua ativa — inclusive, aquele restinho de ETH que deixei lá multiplicou por dez ao longo dos anos.

Lá atrás, eu estava em casa, digitando e conversando sobre Ethereum.

E agora, tantos anos depois, sigo no mesmo lugar, ainda falando sobre Ethereum. Difícil imaginar, não é?

Deixe-me começar falando de mim.

Como muitos já sabem, sou um entusiasta do Bitcoin. Mas não me considero um “BTC maxi” (um fã incondicional e exclusivista — não é o meu caso). Gosto também de Ethereum, BNB e Solana, e estou sempre buscando estudar e aprender sobre essas redes.

Minha primeira carteira Ethereum não foi a MetaMask, mas sim a lendária MyEtherWallet. Era tão simples que para entrar você precisava subir um arquivo keystore e digitar sua senha para destravar o acesso à carteira.

O motivo de eu querer logo uma carteira Ethereum? Queria comprar um CryptoKitty.

Na época, dois gatinhos podiam cruzar, alguns tinham traços raros, cada um com sua taxa própria de produção, o que gerava gerações infinitas e muita especulação.

Só fui utilizar a MetaMask em 2020 — na época, eu negociava a stablecoin algorítmica AMPL. O diferencial era: se o preço subia acima de US$1, todo mundo recebia mais tokens; se caía para menos de US$1, tokens eram retirados, ajustando a oferta e a demanda para manter a estabilidade.

Essas duas carteiras representam eras muito distintas. De modo geral, vejo a evolução do Ethereum dividida em quatro fases:

Era 0 (2015-2016): o nascimento do Ethereum

Era 1 (2017-2019): a Era das ICOs

Era 2 (2020-2022): a Era do DeFi

Era 3 (2023-2025): a Era dos LSTs

Era 4 (2025–presente): a Era dos Ativos

[Era 1: A Era das ICOs]

Em 2015-2016, o Ethereum tinha apenas um grande diferencial: contratos inteligentes. Isso mudou tudo, pois outras altcoins como Ripple e Litecoin não ofereciam nada parecido.

Porém, pouca gente sabia realmente criar contratos inteligentes — até 2017, o uso principal era mesmo só lançar novos tokens.

Eu usava uma carteira rudimentar como MyEtherWallet — não havia ambiente para criar um ecossistema de Dapps em larga escala.

Ainda assim, só o fato de poder emitir tokens já era algo enorme. Antes do Ethereum, criar uma nova moeda era mexer no código (por exemplo, trocar “Bitcoin” por “Litecoin”), atrair mineradores e monitorar a rede sem parar. Era muito complexo.

Mais de 80% das pessoas só queria uma moeda para especular — pouco importava a tecnologia por trás (aliás, até hoje, “narrativa” quase não conta. Queria ter percebido isso antes).

O Ethereum entregou exatamente o que o mercado queria e virou o superstar do momento.

Lembro bem: quando a China anunciou o banimento das criptos em 4 de setembro, o ETH estava em 1.400 RMB (yuans). Seis meses depois, bateu US$1.400!

Aquela alta foi o típico FOMO impulsionado por oferta e demanda.

Pense comigo: em grupos de chat, você poderia participar de uma a três ICOs públicas por dia, todas exigindo ETH. Bastava enviar ETH para um contrato inteligente, com chance de multiplicar o valor entre 3 e 100 vezes. Era claro que todo mundo queria Ethereums guardados.

Só que a queda veio tão rápido quanto a alta.

Costumo contar para amigos as histórias de SpaceChain e HeroChain, que despencaram abaixo do preço de lançamento. A SpaceChain queria lançar nós blockchain no espaço; a HeroChain era uma “rede de apostas” supostamente apoiada por cassinos do sudeste asiático.

Na época, eram dois dos ICOs mais badalados. Mas ambos quebraram no início de 2018, marcando o início da derrocada geral.

Assim que equipes começaram a sacar o ETH arrecadado e investir em ICO virou sinônimo de perder dinheiro, todo mundo passou a vender ETH.

Em 2019, o ETH foi para US$80 — o verdadeiro fundo do poço.

Eu não fui exceção — não fui daqueles que segurou ETH durante toda a queda.

Manter o hábito de escrever é uma boa forma de autocrítica. Revendo meus textos de março de 2018, quando ETH estava por volta de US$400, eu já publicava artigos questionando o valor do Ethereum: se só servia para ICO, o que sobraria depois do fim do boom?

Mas os comentários traziam ótimas percepções. Um leitor, LionStar, resumiu bem:

“2018 é só o começo do Ethereum. Todo mundo sabe que falta escalabilidade e desempenho — ainda é cedo. A grande visão começa em 2018: PoS, sharding, plasma, truebit, state channels, swarm, ZK proofs, etc. Nada disso existe ainda — espere cinco anos para ver onde o Ethereum chega. A maioria só olha o preço — quando sobe, ficam eufóricos; quando cai, pessimistas. Esse raciocínio é inútil. Quem realmente determina o valor são a tecnologia e o potencial futuro; o preço apenas acompanha depois.”

Ironia do destino: além de PoS e provas de conhecimento zero, nada mais se concretizou.

Mas essa abertura é o charme do Ethereum. Ele é um framework aberto para equipes experimentarem: sharding, plasma, truebit, state channels, swarm. São projetos comunitários — cada uma traz sua visão e motivação. Esse é o verdadeiro espírito da internet e do open source.

É a experimentação contínua e desimpedida que trouxe o Ethereum onde está.

A comunidade Ethereum avança em dois eixos.

Um eixo é tecnológico — evoluir a performance fundamental do Ethereum;

O outro, de aplicações — desenvolver soluções reais sobre o Ethereum.

Os dois prosperaram. Mesmo em crise, o DeFi ganhava corpo nos bastidores.

[Era 2: A Era do DeFi]

Tudo se acelerou em 2020, quando a Compound passou a recompensar depositantes e tomadores de empréstimo. De repente, ficou nítido que o Ethereum podia hospedar aplicações de utilidade real — não apenas joguinhos como CryptoKitties.

E esses aplicativos superavam os tradicionais: custos de empréstimo menore e retorno sobre depósitos bem maior. Por um tempo, o subsídio era maior que o juro do empréstimo, invertendo a lógica clássica do crédito.

Pode parecer óbvio hoje, mas naquela época foi uma quebra de paradigma.

Até então, projetos populares eram os de armazenamento distribuído, energia solar, moedas exóticas ou blockchains para jogos — coisas criadas apenas por moda. Já o Ethereum despontou como o primeiro projeto realmente capaz de desafiar as finanças tradicionais — era como o primeiro filho de uma vila indo para a faculdade.

Nem toda ICO foi puro hype: algumas trouxeram avanços reais. Por exemplo, a antecessora da AAVE, EthLend, nasceu naquele ciclo inicial de ICOs.

Com a superação do fundo do poço, o Ethereum deu a volta por cima e veio oficialmente a era do DeFi.

O DeFi mudou a dinâmica de oferta e demanda, tal como as ICOs antes. Protocolos como Uniswap e Sushiswap exigiam vastas quantidades de ETH como liquidez, impulsionando fortemente a demanda.

Com ETH, era possível minerar, ganhar grandes retornos e aceitar um pouco de perda impermanente — retornos anuais superiores a 100% eram realidade. Esse nível de rendimento era extremamente atraente.

Com o DeFi aquecendo a demanda, o ETH chegou a US$4.100 e bateu um recorde de US$4.800 em 2021. Essa valorização refletiu o otimismo generalizado (inclusive o meu) de que o Ethereum podia superar o sistema financeiro tradicional.

Porém, diferente do boom das ICOs, em 2021 o Ethereum já tinha concorrentes de peso. O DeFi surgiu no Ethereum, mas se espalhou rápido por blockchains rivais — redes com transações mais velozes e taxas baixas. Na era das ICOs, taxas de gas pouco importavam. Mas, no DeFi, ser chamado de “rede dos ricos” virou um baita problema de marketing para o Ethereum, não um mérito.

Logo, em 2022, Luna (que nem se encaixa como DeFi — sempre foi um ponzi) colapsou de forma estrondosa, arrastando o mercado, FTX e 3AC, e pondo fim ao verão DeFi.

Assim como nas ICOs, com a inversão da oferta e demanda, a participação no yield farming despencou e o Ethereum entrou em queda. O par ETH/BTC desabou, enterrando sonhos.

Quando o DeFi vai bem, o ETH vai bem; quando há crise, o ETH sofre — ainda mais com blockchains rivais cobrando menos de um centavo por transação.

Por isso, por que o Ethereum apostou tanto na estratégia L2, em vez de focar no escalonamento do L1?

A resposta agora está clara.

Era um ponto decisivo — o Ethereum precisava agir rápido para frear o êxodo do DeFi, mesmo abrindo mão de parte da centralidade do mainnet. Assim, explodiram as L2s.

Surgiram pioneiros como Arbitrum, Optimism e ZK-rollups, redes institucionais como Base, Mantle e OPBNB, L2s com ambição de virar “cadeias-mãe” como Metis, projetos com ideias novas como Taiko e redes voltadas a apps como Uni.

O Ethereum não precisava de expansão lenta e complexa — precisava de uma expansão urgente e até agressiva. E foi isso que as L2s trouxeram.

E funcionou. As L2s valorizaram ainda mais a EVM, evitando a fuga de desenvolvedores DeFi devido ao custo alto de taxas.

Em perspectiva — mesmo que fundos e usuários tenham saído do mainnet do ETH, pelo menos:

(1) Não migraram para outros ecossistemas; e

(2) Não criaram concorrentes diretos.

Se não fossem as L2s, a Coinbase quase certamente teria lançado sua própria rede — é natural. Mas com as L2s, ao menos nominalmente, plataformas como Base e Uni seguem reconhecendo Ethereum como “casa”.

Enquanto existir EVM, o Ethereum não será superado.

[Era 3: A Era dos LSTs]

Chegamos ao terceiro ato do Ethereum, coincidente com o ciclo de mercado mais fraco de todos.

Depois das eras das ICOs e do DeFi, vivemos agora a era dos LSTs (Liquid Staking Tokens).

Com o upgrade Shanghai, a transição para PoS foi finalizada. Lido e EtherFi viram o TVL disparar, e uma onda de produtos LST de ETH tomou o ecossistema.

Cada nova fase carrega marcas da anterior — veja na DeFillama: praticamente todos os maiores protocolos DeFi no Ethereum hoje giram em torno de LSTs ou estão fortemente ligados a eles.

Fonte: DeFillama

Mas o que são esses protocolos ligados a LST?

Por exemplo, empréstimos em looping. O looping da EtherFi pode facilmente gerar retornos de dois dígitos em ETH (me chame para conversar, se quiser entender os detalhes). Mas “empréstimo” precisa de quem empreste; por isso, o enorme TVL de AAVE e Morpho vem, em grande parte, da demanda por esse tipo de empréstimo looping. Embora sejam soluções DeFi, chamo de protocolos ligados aos LSTs.

O DeFi impulsionou o crescimento dos LSTs, e hoje os LSTs são os maiores demandantes de DeFi.

Nota: Nossa empresa Ebunker nasceu também nesse período — 15 de setembro de 2022, justamente o dia da fusão PoS bem-sucedida do Ethereum.

Hoje, mais de 400.000 ETH já foram validados, de forma não custodial, em nossos nós — um orgulho para mim.

Para quem realmente acredita em ETH, o que conta é agir para fortalecer a rede (no meu caso, operando nós validadoras).

Voltando ao ponto: reforcei sempre como as grandes mudanças de oferta e demanda ditam o preço do ETH.

Só que os LSTs (incluindo staking não custodial) não mudaram esse quadro. O rendimento do ETH na Lido ficou perto de 3%; na EtherFi, 3,5% — e só.

Mesmo projetos de restaking como EigenLayer não alteraram esse patamar.

Parece até que todos estão esperando um corte de juros do Fed — esse piso de 3% desanimou a economia virtual do Ethereum.

As taxas de gas do ETH caíram (fruto também de avanços nas layers 1 e 2), mas o nível de atividade on-chain segue baixo.

Essa é a terceira repetição do mesmo desequilíbrio histórico de oferta e demanda do Ethereum.

Por isso, os LSTs não trouxeram um “verão DeFi” — ao contrário, vieram acompanhados por uma queda constante do preço do ETH.

A rentabilidade de 3% não é estímulo para que grandes investidores acumulem ETH — só atrasa as vendas. Ainda assim, mérito do setor LST, pois estimulou grandes detentores a fazer staking em vez de vender ETH, o que teria levado o preço para os US$80 registrados em 2019.

[Era 4: A Era dos Ativos]

Felizmente, após o Bitcoin, o Ethereum finalmente ingressou no mercado de ETFs spot dos EUA. Isso trouxe uma onda passageira de hype e, principalmente, marcou o início do quarto grande ciclo do Ethereum: a Era dos Ativos.

O caminho de ativo alternativo até mainstream é longo. Com a relação ETH/BTC caindo abaixo de 0,02, o Ethereum viveu mais um grande “momento de dúvida”.

O ecossistema inteiro deve muito ao Michael Saylor, pioneiro da estratégia MicroStrategy.

Empresas começam comprando BTC ou ETH, usam esses ativos como lastro para emitir novas ações ou dívidas — captando mais dinheiro, comprando ainda mais BTC ou ETH, que sustentam novas emissões, e assim por diante.

O sucesso da MicroStrategy com Bitcoin inspirou a comunidade do Ethereum.

VCs cripto liderados pela Consensys (como Sharplink) e fundos tradicionais como a Bitmine (de Cathie Wood) começaram a disputar o posto de “MicroStrategy do Ethereum”.

Esses, e muitos outros seguidores, criaram uma nova ligação entre a bolsa de valores dos EUA e o cripto.

De novo, a oferta e demanda viraram a favor do ETH.

Instituições passaram a comprar ETH em peso e, assim como antes, a era LST já tinha preparado a base — muito ETH em staking, oferta reduzida em circulação e uma nova onda de FOMO entre bolsa e cripto.

Essa onda também se apoia na reputação construída pelo Ethereum entre o mercado cripto e o setor financeiro tradicional.

Vitalik Buterin jamais ostentou riqueza nem endossou esquemas — sempre priorizou avanços técnicos centrais do Ethereum, como ZKVM, privacidade e simplificação do protocolo L1.

Ele nunca comentou sbet ou Bitmine no Twitter.

O fato de o Ethereum ter sido reconhecido pelo mercado e iniciado esta quarta era é fruto de anos de credibilidade técnica e reputação comunitária, tanto de Ethereum quanto de Vitalik.

Valores como os de Vitalik são uma das razões de minha forte identificação com a missão do Ethereum.

[Considerações finais]

Como Binji disse, a rede Ethereum já roda sem falhas há 10 anos — 3.650 dias e noites — sem interrupções ou paradas programadas.

Nesse período:

- O Facebook ficou 14 horas fora do ar;

- O AWS Kinesis ficou 17 horas offline;

- O Cloudflare tirou do ar 19 data centers.

A resiliência do Ethereum realmente impressiona.

Espero — e acredito — que daqui a dez anos eu ainda estarei aqui, no Twitter, analisando o Ethereum.

Feliz aniversário de 10 anos, Ethereum!

Compartilhe sua opinião sobre o Ethereum nos comentários — procuro responder a todo feedback.

E, claro, um simples “feliz aniversário” também é sempre bem-vindo.

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